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  • Foto do escritorCathia Borges

Me encontrando no maternar


Meu nome é Cathia, tenho 54 anos, divorciada 2 vezes, mãe de 3 filhos, Aline, Natalia e Theo, avó de 2 netas, Sophia e Helena.


Fui desafiada a trazer uma reflexão para este espaço e confesso que passei dias pensando o que poderia dividir com vocês. Diante de tudo que pensei e que envolve minha longa jornada, o que mais pulsa no meu coração e me desafia ainda é a maternidade. E é sobre este tema que quero compartilhar minha experiência.


Venho de uma família de princípios cristãos, comigo somos em 5 irmãos e apesar ter sido criada debaixo destes princípios, tive uma infância turbulenta, com um pai abusivo e uma mãe amorosa, porém omissa em muitas situações. Desde pequena sofri abusos sexuais pelo meu pai e isso me deixou marcas que carrego até hoje. Sempre tive a maternagem muito viva dentro de mim, talvez como uma súplica ao cuidado, mas de forma inconsciente. Adorava brincar com minhas bonecas, colocava almofadas na barrica para fazer de conta estar grávida e desejava ser mãe. Aos quinze anos, meus pais se separaram e minha mãe sozinha com cinco filhos a sustentar, me delegou uma missão: cuidar de minhas irmãs que na época tinham 8 e 5 anos e ela cuidaria do sustento da casa. Ali começou minha saga... rsrs.. Eu não fazia a menor ideia de como lidar com duas crianças, cuidar, ajudar nas tarefas escolares, levar à escola, até mesmo educar. Uma amiga querida fazia um curso que tinha aulas de psicologia infantil e perguntei se poderia assistir como ouvinte para ter uma noção de como lidar e suprir a ausência da minha mãe. Assim, me aventurei e tentei fazer o melhor que pude mesmo sem muita noção do que estava fazendo.


Conheci meu primeiro marido aos 19 anos, me casei aos 21 e já com minha primeira filha no ventre, entrei no casamento. Jurei a mim mesma que seria uma mãe melhor do que eu havia tido e jamais permitiria que o pai roubasse delas o que havia sido roubado de mim. Mas, com o passar do tempo, fui vendo que havia muito mais deles em mim do que eu poderia imaginar.


Aos 24 anos uma nova gestação e um novo desafio, pois mais uma vez não havíamos programado ter outro filho e meu marido não ficou muito feliz com a chegada de outro bebê, gerando em mim sentimento de rejeição e desemparo. Mas com o nascimento da Natalia, fomos nos reconectando e ela chegou com muita força e determinação em marcar seu território.


Passado alguns anos, eu havia mudado de cidade e levei minha mãe para morar comigo na intenção de cuidar dela e proporcionar um tempo de refrigério. Porém, após um ano estando conosco ela faleceu, aos 58 anos, com um infarto fulminante. Após um ano da morte da minha mãe, meu pai também faleceu. Eu estava com 35 anos.


A morte de meus pais me levou a um mergulho profundo na minha alma e nas minhas memórias e a partir deste evento, foi que me deparei com uma necessidade enorme de reescrever minha história. Foi um tempo de rever o meu olhar para vida, para as minhas relações, de perceber o quanto eu precisava sentir a minha dor, honrar meus pais apesar de tudo, entender que eles me deram, além do que haviam recebido, e assim como eles, eu também havia cometido erros e tropeços.


Fui estudar psicologia e no meio do curso me separei. Tive um câncer e me vi sozinha com duas filhas para criar. Naquele momento eu não queria ser mãe, queria ser livre, queria viver tudo que eu não havia experimentado. Porém, me vi numa teia de circunstâncias em que eu tinha poucos recursos e pouca energia para me suster.


Somos piegas demais em achar que o tempo todo temos o dever de amar incondicionalmente, não encaramos nossas verdades, e acolhemos a culpa e o sentimento de impotência que muitas vezes nos consome. Mas, prossegui como a heroína que nunca pode parar e não importava o que pudesse acontecer, eu teria de fazer o possível e o impossível para ser a “melhor mãe”.


Conheci outra pessoa e, novamente, me aventurei em um novo relacionamento. Fiz uma colcha de retalhos, eu com 2 filhas, ele com um casal e ainda em tratamento do câncer de mama, e aos 42 anos chega meu terceiro filho... Foi uma explosão de sentimentos, de dúvidas, medo do futuro, medo de recomeçar, medo de falhar. Na verdade, mais uma vez vivi a frustação da liberdade perdida, que eu já havia alcançado com minhas filhas adultas ... voltaria tudo à estaca zero.


Porém, no meio de um cenário de morte que o câncer me levou, me vi gerando vida e isso fez com que eu acolhesse a ideia de ser maternar novamente. Disse para mim mesma: agora serei diferente, uma outra mãe, mais madura, mais experiente e tudo será mais fácil.



Para minha surpresa, foi como se nunca houvesse parido, pois meu filho trouxe consigo novos e grandes desafios. Sua personalidade marcante, sua vontade persistente me fez perceber que eu ainda não sabia quase nada e tinha muito a aprender.


Tive que buscar a humildade de reconhecer minhas limitações, escolher novos caminhos, quebrar paradigmas e me render. Novamente a memória da minha infância, do meu relacionamento com meus pais e a partida deles me conduziu as outras reflexões.


Fui buscar entender a minha criança, quem ela era? O que ela perdeu ao longo do caminho? Quais seus anseios e suas faltas?

Como ser eu mesma e mãe ao mesmo tempo? Como expandir minha percepção do universo das crianças? O que elas de fato esperam de nós, mães?


Tenho aprendido que o desejo delas é que o nosso olhar seja acolhedor, que nós não queiramos impor a eles aquilo que não somos. Que sejamos mais empáticos, que sejamos a mãe que gostaríamos de ter tido, no sentido de compreender melhor seus processos e respeitar cada desafio que a criança enfrenta em ter que atender nossas expectativas, pois eles não têm... Entender que não somos maiores nem menores, mas que estamos juntos formando e sendo formados.


Neste momento de pandemia, fomos desafiadas de uma forma absurda, como nunca fomos antes. De uma forma tão intensa a ser mãe em tempo integral. Descobrimos que muitas vezes não sabemos quem nossos filhos são, o que eles almejam, suas necessidades reais. Desde então, os conflitos aumentaram. As mães encontram-se exauridas por tentar fazer funcionar algo que muitas vezes nem imagina como funciona. Mas, não se assuste. Pois você não está sozinha! Estamos juntas e apenas precisamos olhar para dentro, ver nossa criança, estender os braços e acolhê-la. Entender que não somos perfeitas. Mas, podemos sim, diminuir este desconforto, essa sensação de impotência quando nos deixarmos ser como eles... Simples, com poucas pretensões. Nossos filhos anseiam apenas que os enxerguemos, que os respeitemos como pessoas que são.


Sigo neste desafio a cada dia. Porém, mais consciente de quem sou e do que também não sou.


Busco ter um olhar mais afetuoso, entendendo que esse trilhar é nosso, não meu apenas. E junto com meu filho (Théo de 11 anos), estou muito mais aprendendo do que ensinando. Reconheço minhas falhas, peço desculpas e busco recomeçar na certeza de que, desta maneira, ele possa entender que na vida o mais importante não é sempre acertar, mas sempre estar disposto a nunca desistir de tentar!

Cathia Borges

Dedico estas linhas ao meu filho Théo, que tem sido o meu grande mestre e as minhas filhas Aline e Natalia que hoje, mais amigas do que filhas, têm me acolhido e me incentivado a ser quem realmente sou!!
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