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  • Foto do escritor Mariam Abed Ali

Jornada do autocuidado – Pensamentos na sala de espera

“Você quer ter filhos?” É a pergunta que mais tenho ouvido nas últimas consultas, já foram 3 nas últimas 4 semanas. “Eu sou saudável e posso não ter filhos” também tenho ouvido bastante isso e tudo bem. É a maneira como alguém que te ama tenta tornar essas questões mais realistas, menos dolorosas para você, para eles, e você se derrama em tanto choro ainda assim.

A questão não é estar saudável e não conseguir ter filhos, ou me sentir injustiçada, castigada pelo que tenho passado, além de ter MUITA noção de que não sou a única. Para mim, a questão tem sido: “Mais um pedaço meu indo embora. A oportunidade de poder salvar meus ovários e ter a possibilidade de ter filhos com os meus óvulos em ação, também”. Esse é o cenário que a ENDOMETRIOSE tem me proporcionado. Algumas possibilidades, cada uma com seu risco “calculado” e outras possíveis consequências.

Já passei por essa etapa uma vez. No meu primeiro texto aqui, relatei sobre a perda do quadrante inferior da mama esquerda e os efeitos na saúde mental, quebra de padrões de beleza, bem-estar e consequentemente, na saúde física. O quanto já comentei aqui sobre processos e cá estou lidando com mais um. Cá estou em um poço de dúvidas, sentimentos e muitas consultas.

Sempre ressalto que independente dos processos passados, a vida acontece em paralelo e sempre iremos nos deparar com outras coisas para lidar. Essa é mais uma etapa que chegou para que eu possa usufruir de aprendizados de processos passados e conseguir tornar essa experiência menos dolorosa. Hoje, a perda dos ovários seria uma perda diferente da mama. Proporções diferentes, porém, perdas. Antes, angústia, ansiedade, choro e respiração sem ritmo na sala de espera. Hoje, pernas cruzadas, exames ao lado, bolsa no colo, celular na mão vendo coisas engraçadas na internet.



Será que as perdas são perdas? O processo é difícil, trabalhoso, exige decisões. Mas as vivências que tive, me ensinaram a abraçar com mais amor o meu corpo, olhar com mais gentileza a minha alma e acolher as dores que sinto. O poder de decisão quanto a essa cirurgia e várias outras questões em conjunto, estão nas minhas mãos. Ou melhor, no MEU coração. No fundo, só a gente sabe o que precisa fazer, por si mesma. Respondendo... Não são perdas, são transformações. Será a resiliência tomando conta de mim antes que eu perceba. A sensação de poder aqui, já não é de posse e sim, de desapego ao corpo e acesso ao inconsciente que grita “o corpo são sem alma leve, para nada serve.” Na verdade, a matemática não fecharia. O autocuidado aqui, já não faz parte de mim, se torna raiz. Independente de qual for a decisão, positivamente essa experiência me trouxe uma sensação de liberdade. Na sala de espera já não toma conta de mim a angústia, somente o seguinte pensamento “serei por mim, hoje e sempre, pelo meu melhor, até o fim”.

Aquele abraço <3



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