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  • Foto do escritorJacqueline Menezes

De onde você é? De onde você pertence?


Por parte de pai, sou bisneta de um aristocrata, nascido no país de Gales (Wales) e de uma bisavó francesa, nascida em Paris. Por parte de mãe, meu bisavô era português casado com minha bisavó espanhola [metade italiana], da cidade de Burgos que levava o mesmo sobrenome da cidade. Então, posso dizer que tenho uma salada mista nas veias, um DNA diverso, já que os filhos dos meus bisavôs e bisavós, resolveram se casar com mais variedades e acrescentar descendentes dos mouros de Portugal. Como se não bastasse, minha filha do primeiro casamento, é neta de suíço e terminei me casando com um polonês naturalizado canadense.

O meu bisavô por ser britânico de Gales e minha bisavó por ser francesa, lutaram para serem aceitos dentro das próprias famílias. Isso porque Inglaterra e França eram inimigos e travavam constantes batalhas e guerras por soberania e expansão dos impérios de cada país. Com isso, meus bisavós foram deserdados pelas famílias inglesa e francesa, em nome do amor. Vieram para o Brasil, na tentativa de uma vida nova e constituir uma família em um país pacífico, tropical e lindo. Como o Rio de Janeiro tinha uma colônia francesa imensa e meus bisavós só falavam gálico e francês, eles acharam que o Rio de Janeiro era a colônia ideal para ficarem.

Anos se passaram e as 5 filhas nasceram. Mas, meu bisavô para suprir a distância das suas raízes e cultura, queimou sua fortuna, acendendo charutos e cachimbos com dinheiro. Mergulhou em jogatinas, cabarés e apostas em corridas de cavalo. Acredito que isso que aconteceu com ele, foi uma forma de suplementar a perda de sua origem e ele trouxe para o Brasil os costumes britânicos da época. Com isso, lamentavelmente, ele conseguiu queimar 3 fortunas durante a sua vida...

Me casei, sem saber, no dia de São Jorge [23 de abril] com um polonês, que era cidadão canadense. Ele deixou a Polônia quando tinha quatro anos e morou na Inglaterra por 10 anos antes de vir para o Canada. Em 1935, o pai dele foi nomeado Ministro dos transportes e comunicações antes de fugirem da Polônia, durante a guerra.

Quando cheguei ao Canada, depois de 8 anos de relacionamento com ele no Brasil, comecei a notar, o que o destino me reservou... Coincidentemente, meu marido achou um apartamento para nós, em frente à igreja ortodoxa de São Jorge.

Eu, brasileira, com uma descendência tão diversa, vim morar no Canada - a província/ estado de British Columbia - BC. A minha filha foi escolhida para estudar na escola do príncipe de Gales (Prince of Wales School). Depois de décadas é que coloquei os “pingos nos is” - O Canada é metade britânico e metade francês [e por vários anos, lutaram para separar o britânico do francês]. Essa divisão do país foi o que me alertou - isso foi exatamente o que os meus bisavós vivenciaram na Europa, antes de fugirem para o Brasil.

Quando cheguei aqui, na semana anterior ao Dia das Mães, era primavera. As flores brotando, o clima ameno, como um ar-condicionado. A neve ainda vasta nas montanhas...

A euforia de querer ir às montanhas, tocar na neve pela primeira vez, antes que o sol esquentasse, era sufocante! Chegando no topo da montanha, percebi que éramos os únicos lá e resolvi tirar a roupa e ficar de lingerie. Queria tirar uma foto para mostrar a minha família e amigos, que nem sempre se fica de botas e casacos na neve hahaha. O clima estava morno, mas os pés congelavam... De repente, surge da floresta na montanha, um indígena canadense, de jeans, sem camisa e com uma vara na mão, dizendo Hello there! O meu marido, tentou se desculpar por eu estar de lingerie celebrando a minha primeira neve. O indígena que, até então, tinha sido tão amigável, se rebelou gritando: LET HER BE! LEAVE HER ALONE! Deixe ela ser ela! Deixe ela em paz! Passado o constrangimento, todos nós fumamos um cigarro sentados na rocha e eu com os meus pés petrificados no gelo e o meu fio dental congelado na rocha hehehe...

O tempo foi passando. O lado hipnótico do encantamento do novo, continuava. Até a cor do asfalto que era cinza me enchia os olhos. Ver de perto os esquilos e animais silvestres, como o coiote, gambás, guacinins... Eles eram presença constante no meu jardim. Quando se junta a diferença geográfica, climática, de língua e costumes, é um “transe hipnótico” constante, até deixar de ser novidade...

Só lembrava da Música “Aquarela” de Toquinho, lançada em 1983 - no trecho “Vamos todos numa linda passarela de uma aquarela que um dia, enfim, descolorirá. Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo, que descolorirá. E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo, que descolorirá. Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo, que descolorirá”.

Descoloriu. E quando se descolore a realidade, a hipnose se quebra. Você começa a enxergar as diferenças, as discriminações, a intolerância, a diversidade, o multiculturalismo monopolizado...

Quatorze anos depois da minha chegada, me separei e quatro anos depois me divorciei. Foi na separação e no divórcio, que eu vi que o “TRUE COLORS” do Canada era cinza e muitas vezes pura escuridão. O terrorismo emocional, ideológico, religioso e existencial, foi e é muito presente e ativo. Mesmo eu tendo cidadania canadense, os locais só consideram e apoiam, verdadeiramente, os nascidos aqui.

Sempre fui uma ativista - a favor da vida, do vitimizado, do excluído, do violado. De repente, chegou a minha vez de me representar. Sobreviver a uma interação extremamente tóxica, entre meu divórcio e corruptos governamentais associados ao meu ex-marido. Fui rotulada de “anistia internacional”, “madre Tereza”, “Martin Luther King” e “amazona”, pelo simples fato de só querer a paz e viver em paz. A partir dali e, mais do que nunca, eu tive e continuo tendo que mostrar meu brilho, o meu TRUE COLORS SHINING THROUGH [suas verdadeiras cores emanando brilho].

Com a pandemia, comecei a reviver a fase da música onde tudo descolorirá e está descolorindo... Estamos vivendo tempos em que precisamos muito nos energizar, desintoxicar, carregar as baterias do corpo, mente e espírito. É necessário valorizar a vida, se orgulhar de quem você foi e é. É um resgate da sua identidade, da sua raiz, da sua ancestralidade. É fundamental ter orgulho do que somos, das nossas conquistas. Quantas vezes estendemos a mão aos outros e quantas mãos nos foram oferecidas! É deixar o lado bom prevalecer. O ruim, o miserável, está presente em todos os países, governos, religiões e famílias. Mas, no lado global, as vítimas não têm distinção de carácter, classe social, racial, religiosa, patriótica. O caos se tornou universal e isso reforça o fato de que todos somos iguais, sem distinção. Por isso, eu tenho como um lema, desde criança, que “a Vida só é bem vivida, quando envolvida na Vida de outra Vida”.

Quero fazer a diferença! Se você pensa que é muito pequeno para fazer diferença, tente dormir com um mosquito e veja o impacto que ele causa!

Diga não ao abuso, à violência, à discriminação, à alienação e atitudes medievais e criminosas. Temos o poder de destruir, mas o poder de reconstruir prevalece como a essência da vida.

Eu sou a rainha da minha vida, dos meus valores e dos meus princípios. E se eu sou rainha da minha vida, meu reinado é pautado na dignidade, no respeito ao próximo e na justiça.



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