Jacqueline Menezes
Continuo me redescobrindo

Fui mãe aos 15 anos e, uma semana depois do nascimento da minha filha, fiz 16. Me casei com um estrangeiro 30 anos mais velho que eu. Na época, eu não enxerguei a diferença cultural e de idade. Admirava o senso de aventura e os pensamentos não lineares que ele tinha. Isso despertava e alimentava a curiosidade da minha mente.
Sempre fui uma pessoa apaixonada pela antropologia, pela diversidade e nunca tive medo de controvérsias. Já fiz um pouco de tudo. Fui modelo aos 17 anos, desfilava para o estilista Ney Galvão e fazia publicidades locais. A minha irmã mais nova [Kitty], que na época era publicitária, me introduziu em um trabalho de host. Trabalhei para Alceu Valença, Lulu Santos e muitos outros. Fiquei responsável pela organização dos shows, hospedagem dos artistas, passagens aéreas e translado. Que aventura! Foi um aprendizado maravilhoso!
Estudava biologia, na Universidade Federal da Bahia, pegava em cobras, tarântulas, escorpiões, abria cadáveres para estudo de anatomia, e via sob o microscópio, o significado da vida. Talvez por isso, tenho orgulho da mulher que me tornei.
Vim morar em outro país com língua, leis e costumes diferentes. Mas, isso não me congelou. Mesmo em território estrangeiro, não deixei de lutar pelos meus direitos e pela minha existência.

Venho de uma família de mulheres guerreiras. A minha mãe teve 4 filhos, 3 mulheres e 1 homem [sou a mais velha]. Antes de mim, ela teve dois abortos naturais. Depois de um tratamento hormonal, eu nasci. Onze meses depois o meu irmão e 1 ano e 4 meses depois dele, nasceu Kitty. Éramos praticamente trigêmeos. Minha mãe, que é taquigrafa, trabalhava desde os 15 anos no Tribunal de Justiça. Aos 28, ela tinha que conciliar o trabalho do Tribunal, 3 filhos com pouca diferença de idade, marido e a casa... Seis anos depois, veio Michele, a irmã mais nova. Apesar da correria, de não ter tempo para ela mesma, minha mãe não esquecia do próximo. Ela ensinou os filhos a olhar para os outros com empatia. Ensinou a importância da doação. Não só de objetos, alimento. Mas, a doar seu tempo, seu AMOR.
Aos 34 anos e com 4 filhos pequenos, teve que enfrentar a cirurgia cardíaca de meu pai [ele tinha 42 anos]. Isso abalou nossa família de tal maneira que afetou o sono, os estudos e nossa condição financeira. Vendo essa situação, uma colega do tribunal, que era casada com um diretor de peças infantis do Teatro Castro Alves, perguntou se minha mãe deixava os filhos participarem da peça em cartaz “Branca de Neve e os Sete Anões”. Eu fui o “Soneca”, Kitty o “Feliz” e meu irmão Sérgio, o “Dengoso”. No meio do caos que vivíamos, minha mãe incentivou a nossa criatividade, nos ensinou a driblar o estresse, despertou alegria e o comprometimento, diante do desafio de atuar em uma peça teatral grandiosa.
Crescemos conscientes sobre deveres, direitos e o significado da palavra generosidade. Do quanto é importante ouvir, se colocar no lugar do outro e estender a mão a quem precisa. O mundo está necessitado disso: amor, empatia, tolerância. Praticar o cuidado com o outro, sem esquecer o seu autocuidado. Tenho aprendido muito aqui na Mezcla Mulher sobre autocuidado e estou procurando praticar todos os dias!
Hoje com 55 anos, continuo me redescobrindo. Participo de tudo que posso, aprendo coisas novas, me desafio. Sempre procurando respeitar a minha essência, a minha luz.
Sem luz não existe brilho. Veja o brilho do sol... É pura luz! E você já descobriu o seu brilho?